1.5.07

Não procure rimar na Páscoa.

Passado o que não segurei
perdida entre os cacos e as conchas do mar
suas coisas que valores eu posso dar?
Agora eu escolho a beleza, onde a sua harmonia
me amparava, com carinho e capricho,
quando eu não sentia nenhuma falta.

Um vestido ou um anel, tanto faz.
Importa é estar bem. E agora?
Com qual roupa eu fico?
Daquelas que você se sentia melhor e mais gostava?
Ou a que me cabe melhor e o resto jogo fora?

Amasso tudo num saco plástico até saber o que fazer.
Daí talvez eu ja tenha jogado sua carta fora e decorado
as palavras, lido e me desgastado sabendo todas as memórias que me traz.
Mas talvez não. é provavelmente sem fim as dúvidas que voltam em filmes e músicas
as tatuagens, as poesias doloridas e o vento

O espaço que está a disposição de todos
não está mais para nós duas.
Lemas de transcendência por favor, se calem
para que nasça o que não se diz, e
prestem atenção nisso aqui:

Tenho um inquilino novo que chegou e está se instalando em mim agora,
fura parede, traz os móveis e faz-se bem a vontade
Sei que não tenho como expulsá-lo, ninguém me ajuda e não sei o que fazer.

Se a minha mãe tivesse aqui ela iria me ajudar.
Mas agora, que dizer que ela está onde é melhor para ela? quem disse?

E esse inquilino?
O que ele tá fazendo aqui?

Pausa e Suspensao: reações diante do inexorável

Pausa e não suspensão.

Quando passeio entre os eucaliptos enquanto o sol se põe e seguro o ar que me encherá os pulmões, estou em suspensão por algo que irá me acontecer.

E se procuro o melhor lugar do parque para ver o sol se pondo, e quero no último instante mais outra nuance daquela luz agora detrás dos prédios, me apresso para vê-la e ponho-me em suspensão. Sinto esta suspensão que é a promessa da próxima experiência, e do que a anterior não pode ter sido.

Quando páro diante do céu que não trará mais o sol nas futuras horas da noite, sinto os dedos do inexorável sobre mim. Encontro o que é absoluto e maior, a forma justa e inflexível. Esse grau de absoluto através do pôr-do-sol me silencia e agora entro em pausa.

E a pausa não é a suspensão.
Uma das diferenças é que a pausa é sempre única e solitária. É o vento gélido do ar em movimento, um mensageiro do tempo que não perdoa. Da força que não compadece, e que caminha por tudo que existe, no silêncio e invisível.


E a suspensão não é a pausa.
A diferença é que a suspensão existe para a outra metade. É o momento que prepara e aquece a vinda do que é esperado. Aumenta e se infla de outro amparo. É a absorção do alimento antes de virar energia e por isso contrai, se retem no indizível.